sábado, 13 de janeiro de 2007

ESSE CARA SABIA DAS COISAS...

Calcula sem cessar quantos são os médicos que morreram depois de haver franzido o cenho tantas vezes à cabeceira de seus doentes; quantos astrólogos que haviam predito com ênfase a morte de outros indivíduos; quantos filósofos que haviam apregoado uma infinidade de sistemas acerca da morte e da imortalidade; quantos guerreiros celebres que haviam imolado milhares de inimigos; quantos tiranos que haviam abusado com terrível ferocidade do direito de vida e morte sobre seus vassalos, como se eles próprios fossem imortais; enfim, cidades inteiras como Pompéia e muitas outras morreram por assim dizer. Lança logo um olhar sobre todos que tu mesmo conheces-te e verás que um já está no túmulo, outro foi enterrado por um terceiro, e este por sua vez por um outro, e tudo isto sucessivamente num espaço de tempo relativamente curto. Numa palavra, não percas nunca de vista a fragilidade e a inconstância das coisas humanas. O homem ontem era um simples gérmen; amanhã será um cadáver ou menos ainda, cinzas. Passemos pois este curto instante de vida conforme nossa natureza; submetamo-nos voluntariamente a nossa dissolução, como a fruta madura que, ao cair, diria-se que bendiz a terra que a produziu e dá graças à arvore que a sustentou. – (Meditações de Marco Aurélio.).

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