domingo, 14 de janeiro de 2007

FAVORITO I

Daí-me rosas e lírios,
daí-me flores, muitas flores
quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas
em me dardes muitas flores,
Nem isso... Escutai-me apenas pacientemente quando vos peço
que me deis flores...
Sejam essas as flores que me deis...
Ah, a minha tristeza dos barcos que passam no rio,
sob o céu cheio de sol!
A minha agonia da realidade lúcida!
Desejo de chorar absolutamente como uma criança
com a cabeça encostada aos braços cruzados em cima da mesa,
e a vida sentida como uma brisa que me roçasse o pescoço,
estando eu a chorar aquela posição.
O homem que apara o lápis à janela do escritório
chama pela minha atenção com a s mãos no seu gesto banal.
Haver lápis e aparar lápis e gente que os apara à janela é tão estranho!
É tão fantástico que estas coisas sejam reais!
Olho para ele até esquecer o sol e o céu.
E a realidade do mundo faz-me dor de cabeça.
A flor caída no chão.
A flor murcha (rosa branca amarelecendo)
caída no chão...
Qual é o sentido da vida? -
(Álvaro de Campos?).

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