domingo, 14 de janeiro de 2007

FAVORITOS VII

O TINTEIRO
Nobre tinteiro sagrado do poeta
de cujas entranhas nasce um mundo,
quando à ti vem uma idéia,
que com certa graça nova te assedia.
Tinta, aonde encontravas riquezas
tão fabulosas? Quando cada traço teu flui no papel
um novo diamante se reúne
ao cabedal da fantasia.
Quem te ensinou as palavras
que lanças ao mundo e que nos enchem de entusiasmo?
Os filhos de nossos filhos as lerão
com o mesmo ardor e emoção.
Estas palavras que ressoam em nosso ouvido
como escutadas pela vez primeira, aonde as achaste?
Não são, no entanto, de todo estranhas -
nosso coração em uma vida anterior já as sabia.
A pena que molhas lembra um ponteiro
que no relógio da alma se move.
Os minutos do afeto conta e limita,
as horas da alma conta e muda.
Nobre tinteiro sagrado do poeta
de cuja tinta nasce um mundo – à minha mente surge agora um pensamento,
quanto mundo dentro de ti se perderá
quando uma noite, o fundo sono caia sobre o poeta?
Ali ficarão para sempre as palavras;
Alguma mão estranha poderia acha-las e brindar-nos com elas?
Não, tu, fiel ao poeta lhas negaria.
(Cavafis).

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