domingo, 14 de janeiro de 2007

FAVORITOS X

TU E EU.
Somos diferentes, tu e eu.
Tens a forma e a graça
e a sabedoria de só saber
crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
que não sei qual é.
És de outra pipa
eu de um cripto.
Tu,lipa.
Eu,calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy.
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico.
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal
e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou penitente
e, ao mesmo tempo,
o prior.
Tua és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Somos cada um de um pano
uma sã
outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo. -
(Luis Fernando Veríssimo.).

Um comentário:

  1. oi Dario...adorei tudo!
    Como reconhecimento transcrevo um poema que é um dos meus favoritos...

    Cada vez que nos dão lições de amnésia como se nunca houvesse existido os ardentes olhos da alma ou os lábios da pena órfã cada vez que nos dão aulas de amnésia e nos obrigam a apagar a embriaguez do sofrimento convenço-me de que meu território não é a ribalta de outros Em meu território há martírios de ausência resíduos de sucessos / subúrbios enlutados mas também singelezas de rosa pianos que arrancam lágrimas
    cadáveres que ainda olham de seus hortos lembranças imóveis em um poço de colheitas sentimentos insuportavelmente atuais que se negam a morrer no escuro
    O esquecimento está tão cheio de memória que às vezes não cabem as lembranças
    e rancores precisam ser jogados pela borda no fundo o esquecimento é um grande simulacro ninguém sabe nem pode / ainda que queira / esquecer um grande simulacro abarrotado de fantasmas esses romeiros que peregrinam pelo esquecimento como se fosse o caminho de santiago o dia ou a noite em que o esquecimento estale
    exploda em pedaços ou crepite / as lembranças atrozes e as de maravilhamento quebrarão as trancas de fogo arrastarão afinal a verdade pelo mundo e essa verdade será a de que não há esquecimento Mario Benedetti

    um grande beijo

    gabi

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